Por Gisele Scafuro

“Prevenir é melhor do que remediar.”

Não há nada mais sábio a se dizer quando o assunto é saúde — ou, mais precisamente, saúde integral.

Desde sua fundação, em 1946, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como:

Um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.

Surge, assim, o conceito de saúde integral, ou seja, uma visão holística (total) do ser humano, que reconhece que corpo, mente e contexto social estão interligados e se influenciam mutuamente. **

Ainda nesse sentido, na década de 1980, vários países-membros da OMS propuseram a inclusão do componente espiritual como parte essencial da saúde.

Sob essa ótica, o ser humano é visto como um todo indivisível: corpo, mente e espírito que interagem continuamente — e o equilíbrio entre eles é o que permite uma vida plena e saudável.

Desde então, a OMS passou a reconhecer oficialmente a espiritualidade como um dos pilares do bem-estar humano, entendendo que ela influencia o modo como a pessoa:

  • enfrenta o sofrimento, a dor e a morte;
  • busca sentido e propósito na vida;
  • encontra paz interior e esperança;
  • conecta-se consigo mesma, com os outros, com a natureza e/ou com o transcendente.

Este texto tem por objetivo apresentar um breve olhar sobre a saúde nos seus aspectos físico, mental, psicológico e espiritual, destacando atitudes ao alcance de qualquer pessoa, no exercício da própria responsabilidade sobre seu bem-estar e felicidade.

A SAÚDE FÍSICA

Vivemos uma era de grande acesso à informação sobre saúde e bem-estar. No entanto, é fundamental buscar fontes confiáveis e ter discernimento diante de discursos que visam apenas o lucro, prometendo resultados rápidos e milagrosos.

Por isso, optamos por apresentar aqui, no campo do bem-estar físico, não teorias abstratas, mas sugestões de hábitos saudáveis baseadas em estudos científicos e orientações médicas. São práticas simples, acessíveis e eficazes, acompanhadas de reflexões sobre a saúde intestinal — aspecto essencial na prevenção de diversas doenças e na promoção de uma vida mais equilibrada.

1.    Dicas de Hábitos Saudáveis

O quadro a seguir não tem a intenção de impor hábitos ou regras, mas sim reunir, em um só lugar, diversas orientações sobre boas práticas fundamentadas em estudos científicos. Cada pessoa possui sua própria história e deve buscar o autoconhecimento — não apenas nos aspectos psicológicos e emocionais, mas também no entendimento do funcionamento do próprio corpo — para tomar decisões e fazer escolhas conscientes e adequadas, sempre respeitando e seguindo as orientações médicas.

 HábitoDetalhes
1Beber água ao acordarÁgua pura ou com limão, em jejum  
2Refeições em horários fixosCafé da manhã, almoço, lanche e Jantar  
3Jejum notturno12 a 14 horas — jantar antes das 19h (ex.: jantar às 18h, café da manhã entre 7h e 8h)  
4Evitar certos alimentosCarne vermelha, cafeína, doces, álcool e farinhas brancas; refrigerantes, embutidos, e ultraprocessados  
5Alimentação equilibrada (sugestão)– Café da manhã: frutas ou salada de frutas com sementes; pães integrais, queijos brancos, iogurtes, chá,  consumo de pouco leite.
– Almoço: saladas variadas com sementes; pratos coloridos (grãos, proteínas, legumes); sobremesa leve

– Lanche da tarde: frutas, iogurtes, sucos naturais, queijos brancos ou castanhas.

– Jantar: caldos leves, pães integrais, queijos brancos, receitas à base de ovos e legumes.

 Evite doces à noite, pois o açúcar aumenta a glicose no sangue e prejudica o sono, além de favorecer o ganho de peso e o diabetes tipo 2.   Evite também alimentos crus à noite, pois podem sobrecarregar o sistema digestivo, mais lento nesse período.  
6HidrataçãoBeber de 2 a 3 litros de água por dia  
7Líquidos nas refeiçõesEvitar durante as refeições — ingerir 30 a 50 min antes ou depois  
8Mastigação e atençãoMastigar bem e comer sem celular ou televisão  
9Quantidade de comidaComer apenas o suficiente — sair da mesa com leve vontade de comer mais  
10Atividade física150 min/semana de atividade moderada ou 75 min vigorosa + fortalecimento muscular

2. A saúde do intestino

A ciência e a OMS reconhecem hoje que o intestino é fundamental para o equilíbrio físico, mental e imunológico.

Chamado de “segundo cérebro”, ele abriga trilhões de microrganismos — a microbiota intestinal — que influenciam praticamente todo o organismo.

Quando há desequilíbrio (a chamada disbiose), diversas doenças e distúrbios podem surgir, afetando o corpo e a mente.

Causas comuns de disbiose:

  • Má alimentação (excesso de ultraprocessados, açúcares e gorduras);
  • Uso excessivo de antibióticos e medicamentos;
  • Estresse crônico;
  • Falta de fibras e alimentos naturais;
  • Sedentarismo;
  • Sono irregular.

Principais grupos de doenças associadas à disbiose:

  1. Digestivas: síndrome do intestino irritável, doença de Crohn, colite ulcerativa, constipação, diarreia, gases e má digestão.
  2. Neurológicas e mentais: depressão, ansiedade, distúrbios do sono, TEA, Parkinson e Alzheimer.
  3. Imunológicas: alergias alimentares, doenças autoimunes (artrite reumatoide, lúpus, esclerose múltipla), infecções recorrentes e inflamações crônicas.
  4. Metabólicas: obesidade, resistência à insulina, diabetes tipo 2, esteatose hepática, hipertensão e doenças cardiovasculares.
  5. Hormonais e dermatológicas: acne, rosácea, SOP, alterações menstruais e dermatite atópica.

Para a prevenção e equilíbrio intestinal, por fim, a OMS traz a seguinte orientação quanto aos bons hábitos:

  • alimentar-se de forma natural e variada (frutas, legumes, cereais integrais, sementes e fibras prebióticas);
  • consumir de probióticos (iogurtes naturais, kefir, kombucha ou suplementos);
  • hidratar-se de forma adequada;
  • ter um sono regular e manejo do estresse;
  • evitar antibióticos e antiácidos em excesso;
  • fazer práticas de relaxamento e espiritualidade, pois o intestino é sensível ao estado emocional.

A SAÚDE MENTAL, PSICOLÓGICA E/OU EMOCIONAL

1.Diferenciando

Inicialmente, vale refletir: qual a diferença entre saúde mental, saúde psicológica e saúde emocional? Será que são a mesma coisa?

Aqui estamos assumindo que os termos se relacionam e até se sobrepõem, mas não significam exatamente a mesma coisa. Vamos diferenciá-los com clareza e mostrar como se conectam:

A Saúde mental é o conceito mais amplo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é

um estado de bem-estar no qual o indivíduo reconhece suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir com sua comunidade.

Envolve equilíbrio global da mente, funcionamento cognitivo (pensar, raciocinar, lembrar), emoções, comportamentos e relações sociais. Inclui tanto o bem-estar quanto a ausência de transtornos mentais (como depressão, ansiedade, etc.).

A Saúde emocional está dentro da saúde mental, mas foca mais nas emoções e sentimentos. Diz respeito à capacidade de reconhecer, compreender, expressar e gerenciar as emoções — tanto as agradáveis (alegria, amor) quanto as desafiadoras (raiva, medo, tristeza). Envolve inteligência emocional, autorregulação e resiliência.
Uma boa saúde emocional não significa “estar sempre bem”, mas saber lidar de forma saudável com o que se sente.

A Saúde psicológica está entre a saúde mental e emocional, e refere-se mais ao equilíbrio interno e funcionamento psíquico da pessoa. Inclui aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais — ou seja, como pensamos, sentimos e agimos. Abrange também autoestima, identidade, motivação, propósito e relações interpessoais. Profissionais como psicólogos atuam diretamente na promoção e cuidado dessa dimensão.

Portanto, essas três áreas são interdependentes:

  • As emoções (saúde emocional) influenciam o estado psicológico (autoestima, motivação, percepção de si).
  • O estado psicológico, por sua vez, afeta a saúde mental global (capacidade de lidar com a vida, produtividade, relações).
  • E a saúde mental equilibrada é sustentada por boas práticas emocionais e psicológicas.

Assim, temos:

DimensãoFoco principalExemplos
Saúde mentalBem-estar global da mente e capacidade de viver de forma funcional e produtivaLidar com o estresse, manter relações, trabalhar com propósito
Saúde emocionalGestão das emoções e sentimentosSaber lidar com raiva, tristeza, frustração
Saúde psicológicaFuncionamento interno e equilíbrio do “eu”Autoestima, motivação, clareza de pensamentos

Por fim, vale dizer que no Brasil, na prática do dia a dia do Sistema Único de Saúde (SUS), a ausência de saúde mental é toda aquela que necessita de tratamento psiquiátrico, portanto são os casos mais graves e urgentes que necessitam de medicamentos. Os demais casos são encaminhados para o tratamento psicológico, cujo tempo de espera para atendimento é bastante longo. Diante desse panorama, com o aumento considerável, epidêmico até, de problemas relacionados à falta saúde mental e psicológica, politicas públicas e apoio da sociedade em geral são urgentes e necessários.

2.Conforme a OMS

A saúde mental, psicológica e emocional fazem parte de um dos eixos prioritários da OMS para o bem-estar global. Segundo a Organização, não há saúde integral sem saúde mental, e ela depende de fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais e espirituais.

Assim, não se trata apenas da ausência de transtornos mentais, mas de viver com equilíbrio emocional, propósito, vínculos saudáveis e resiliência.

A OMS destaca três dimensões interligadas de cuidado: pessoal, relacional (e isto envolve espiritualidade – no nosso ponto de vista) e social.

Segundo a OMS, são caminhos para o equilíbrio mental:

  1. autoconhecimento – compreender emoções, limites e valores; buscar terapia, grupos de apoio ou práticas reflexivas.
  2. gestão emocional – reconhecer e expressar emoções de forma equilibrada.
  3. sono e alimentação adequados – base fisiológica do bem-estar mental.
  4. atividade física regular – reduz ansiedade e depressão.
  5. meditação, mindfulness ou oração – fortalecem atenção e serenidade.
  6. espiritualidade – cultivar propósito, conexão e sentido de vida.

A mente humana também necessita de pertencimento e vínculos afetivos estáveis:

  • investir em relações familiares e comunitárias;
  • praticar empatia, escuta ativa e comunicação não violenta;
  • evitar o isolamento e buscar ajuda quando necessário.

Desde 2023, a OMS considera a solidão uma ameaça à saúde pública global, comparável ao tabagismo.

No campo social, a saúde mental requer condições de vida justas e humanas, como:

  • educação, trabalho digno e moradia segura;
  • acesso a serviços de saúde mental;
  • redução do estigma, ou seja, diminuir atitudes negativas, preconceitos e discriminações dirigidas a pessoas que vivem com transtornos mentais.;
  • comunidades inclusivas e solidárias;
  • políticas públicas de prevenção e promoção de bem-estar.
3.Uma difícil realidade

Fato é que o ser humano passa por uma situação inédita, sejam ricos ou pobres, os valores seguidos são questionáveis, a felicidade nunca antes esteve tão longe de ser vivida, diante da maneira como as pessoas se robotizaram, se fecharam. Estamos amedrontados, com medo de tudo e de todos. Os distúrbios mentais e psicológicos são visíveis. Jovens não têm perspectivas, crianças são deixadas diante de computadores, televisões, não convivem. O emocional e o mental totalmente desestruturados. Novas gerações estão vindo com TDH, autismo e outras espectros.

Pesquisas mostram que a inteligência humana está regredindo. Pela primeira vez, uma geração tem QI inferior a de seus pais. O que está acontecendo? As ciências avançam, a medicina tradicional avança, estamos vivendo mais, porém talvez cada vez pior. Estudos já comprovam que as doenças físicas são reflexos do desequilíbrio mental, emocional e espiritual.

Percebe-se que a saúde mental tem sido um grande dilema, tanto para o setor público, quanto para o privado, nas últimas décadas. Mesmo com o aumento do uso de psicofármacos, ainda não se obtém resultados satisfatórios em muitos casos.

Vemos também o aumento alarmante do número de casos de TEA (transtorno do espectro autista), de TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade), de TOD (transtorno opositor desafiador), de transtornos de ansiedade e de pânico, de TAB (transtorno afetivo bipolar), de depressão e de transtorno de personalidade borderline.

Vemos ainda a dificuldade nas escolas em lidar com as crianças e adolescentes com esses quadros e as listas de espera para conseguir uma consulta com neurologista, psiquiatra e psicólogo na saúde pública. 

A prevalência do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) no Brasil varia entre diferentes estudos, mas estima-se que esteja entre 5% e 8% da população, segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA).

Em um período de 20 anos, a prevalência do TDAH subiu de 6,1% para 10,2%, segundo estudos. Já em relação ao TEA, um estudo americano aponta que 1 a cada 36 crianças apresenta essa condição. 

4.O que podemos fazer?

A resposta não é simples, obviamente, mas é possível sim buscarmos o equilíbrio e o bem-estar. O autoconhecimento é o caminho. A mudança é de dentro para fora.
Valem, portanto, as recomendações da OMS. Assim, de maneira prática e preventiva, para a obtenção de saúde, no que se refere aos aspectos mentais, psicológicos e emocionais, devemos:

EtapaAçãoObjetivo
1Reconhecer e acolher emoçõesDesenvolver consciência emocional
2Buscar apoio profissional (terapia, psiquiatria)Tratar causas profundas
3Manter rotina saudávelEquilíbrio físico e mental
4Praticar meditação ou espiritualidadeReduzir ansiedade e fortalecer propósito
5Conectar-se com pessoas e naturezaPertencimento e resiliência
6Contribuir com algo maiorGerar propósito e bem-estar

A SAÚDE E A ESPIRITUALIDADE

Como já destacado, o aspecto espiritual vem ganhando reconhecimento crescente dentro do conceito de saúde integral, inclusive em documentos da OMS e universidades como Harvard e Oxford que reconhecem a espiritualidade como fator protetor da saúde.

Estas pesquisas mostram que o cuidado espiritual pode:

  • reduzir ansiedade, depressão e estresse;
  • melhorar a adesão a tratamentos e hábitos saudáveis;
  • promover esperança e resiliência;
  • aumentar a qualidade de vida em doenças crônicas e terminais.

Por isso, políticas de saúde e hospitais — inclusive no Brasil (SUS) — vêm incentivando o atendimento humanizado e espiritual, com espaço para escuta empática, práticas meditativas e de fé.

A espiritualidade é entendida de forma ampla, abrangendo:

  • a busca de significado e propósito na vida;
  • a conexão com algo maior — natureza, comunidade, valores ou o transcendente;
  • crenças, valores pessoais, ética e práticas de contemplação;
  • o sentido de pertencimento, transcendência e resiliência diante do sofrimento.

1.Espiritualidade com autonomia

Mas o que é espiritualidade? Dentre tantas formas de olhar o assunto, nos identificamos bastante com o conceito de espiritualidade com autonomia de Juliano Pozati. Vejamos.

Para Pozati, espiritualidade não se resume à adesão a uma instituição religiosa, dogmas ou hierarquias fixas. Ele fala em “espiritualidade sem igreja e filosofia sem brisa”. É uma prática que envolve:

  • Autoconhecimento profundo — olhar para dentro, para as próprias experiências, sentidos, talentos naturais.
  • Despertar de capacidades de sensopercepção / mediunidade — ele relaciona espiritualidade ao desenvolvimento de habilidades de “sintonia, clarividência, clariaudiência” etc., como parte de uma vida espiritual autônoma.
  • Cocriação, conexão e ação — espiritualidade com autonomia, na visão dele, não é passiva; ela leva ao protagonismo: “empreender a Nova Terra”, “ser exoconsciente”.

O que “com autonomia” significa nessa abordagem, então?

Segundo Juliano Pozati, a autonomia espiritual implica:

  • Livre pensamento espiritualizado — o indivíduo “como livre pensador” que não depende unicamente de cultos, clero ou templo.
  • Responsabilidade pessoal e maturidade — ele fala de integrar as experiências espirituais de forma segura, consciente e prática, evitando “misticismo exagerado”.
  • Integração entre espiritualidade e vida cotidiana — não separar o “espiritual” do “material”: trabalho, vida, missão, talento. Ou seja, espiritualidade que se manifesta na vida prática.

Portanto, a espiritualidade com autonomia, na visão de Pozati, é uma prática de conexão interior e consciência espiritual que acontece fora dos moldes tradicionais de religiosidade, onde o indivíduo assume a liberdade de buscar, perceber e aplicar sua espiritualidade de modo responsável, experiencial, conectado com seus talentos e vida, e não apenas como receptor de dogmas ou membro passivo de uma instituição.

EM RESUMO

Cuidar da saúde integral é reconhecer-se como um ser em constante relação consigo, com o outro e com o todo.

Equilibrar corpo, mente e espírito não é luxo — é uma necessidade humana urgente para viver com plenitude, consciência e amor.

   Por esta perspectiva, a saúde integral envolve:

  • Dimensão física – corpo saudável, prevenção e cuidado clínico.
  • Dimensão mental – equilíbrio psíquico e emocional.
  • Dimensão social – relações de apoio, inclusão e pertencimento; alimentação, moradia e educação de qualidade.
  • Dimensão espiritual – valores, fé, conexão interior, propósito de vida.

Eis ai um caminho possível para percorrer. Reflitamos e busquemos cada um o seu, mas com consciência plena de nossas escolhas.

_______________

** Este texto se refere apenas à forma ocidental de se relacionar com a saúde. Acredito que a forma milenar oriental tem muito a contribuir e vem alcançando, felizmente, cada vez mais adeptos no mundo ocidental.

_______________

Referências:

https://www.who.int/

Categorias: Blog

0 comentário

Deixe um comentário

Avatar placeholder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *